segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Um lápis na mão e uma ideia na cabeça

O cinema nasce no papel. É um lápis na mão e uma ideia na cabeça. Porque o autor de cinema (o roteirista, ou o diretor quando deseja aventurar-se nesta seara) não alguém que apenas cria, mas que consiga expressar na folha, em palavras, o que poderá ser visto na tela. 

Escrever para o cinema (para a televisão também) é o tal "show, don't tell", que a escola norte-americana de roteiro usa quase como um mantra. Significa "mostre, não conte". A arte do screenwriting consiste em encontrar palavras que melhor exprimam ações.

Eis um exemplo do que não fazer:

EXT. DIA - Mata

Caçador caminha cautelosamente entre as árvores, pensando em não fazer barulho para não assustar sua presa, que está à beira do riacho.

Este é um problema básico, porém, muito recorrente. Quando você justifica uma ação na descrição da cena com pensamentos ou sentimentos do personagem, as chances são nulas de que você consiga imprimir esta sugestão na tela.

Se o diretor fosse filmar esta cena, o resultado seria  apenas a imagem do caçador caminhando cautelosamente entre as árvores. Afinal, o que ele está pensando só se transformaria em uma ação física se o roteirista seguisse o exemplo do que fazer:

EXT. DIA - Mata

Caçador caminha cautelosamente entre as árvores. Avista a presa à beira do riacho. Pisa de leve em uma folha seca, que faz um barulho. Ele reclama consigo mesmo em voz baixa.



domingo, 5 de dezembro de 2010

Roteiro de Finding Josef

Finding Josef, longa-metragem de Moises Menezes

Finding Josef, filme do diretor Moises Menezes, é um projeto ambicioso. É o primeiro longa deste cineasta baiano, atualmente radicado em Varsóvia (Polônia), onde nasceu o projeto nasceu. O diretor tem na bagagem dois curtas-metragens (Meu Nome é Nadia e O Menino e o Barco) e resolveu ir para o formato de longa para chegar às salas comerciais de cinema, com muita qualidade – o investimento em equipamento foi pesado.

Terminado o trabalho do núcleo polonês, o filme encontra-se em fase de filmagens no Brasil (janeiro e fevereiro de 2011).

Meu trabalho no filme começou no fim de 2009 para início de 2010, quando buscava alguma produção para me voluntariar a fazer qualquer coisa (afinal, cinema brasileiro é na raça). Foi quando encontrei Moises Menezes e seu Finding Josef. Entrei em contato com ele e fui informado de que havia um núcleo de produção em Brasília, onde moro.

Integrei-me à equipe. Mas não saberia onde contribuir, porque meus estudos de cinema são voltados ao roteiro e à teoria. Logo, em uma das reuniões, o roteiro do filme foi aberto ao grupo. Era o terceiro tratamento ainda e  Moises Menezes pediu para que colaborássemos para o próximo rewriting do texto.

Então pude colaborar. Conversando via skype com o diretor, apresentei a ele alguns problemas que havia encontrado na construção do roteiro cinematográfico. Mas problemas que poderiam ser superados com conhecimento mais profundo da técnica de elaboração do script.

Desconstruí o argumento do filme. E reescrevi algumas vezes, de modo à história ficar o mais próximo possível do que o diretor queria expressar cinematograficamente. Daí, arranquei todos os diálogos e foquei nas ações. Depois trabalhamos separadamente as subtramas e, pronto. Melhoramos a história.

Segui neste trabalho com o Moises até o décimo tratamento. Depois disso, por outros compromissos meus, precisei abandonar a produção. Mas Moises continuou a reescrever o roteiro – e isso é mais importante do que escrevê-lo, vale frisar.

O resultado preliminar já pode ser visto no trailer de Finding Josef

Na minha página do Youtube:
http://www.youtube.com/guizaqueiroz#p/a/f/1/o9NVtKJpmQY

Ou no próprio site e blog do filme:

http://www.findingjosef.com.br e findingjosef.blogspot.com.br

Sobre meu ofício

Resolvo criar este blog como ferramenta facilitadora de prestar serviço de script doctoring, ou o que podemos chamar no Brasil de consultoria de roteiro. O meu objetivo é ajudar a atender a profissionais de cinema, sobretudo aqueles iniciantes, que tateiam para acertar seu primeiro roteiro ou tentam desvendar a arte da escrita cinematográfica, mas não encontram em nosso restrito mercado orientações básicas à mão.

Não quero dizer que não temos um mercado em crescimento e com grande potencial. Pois temos. A começar pela Autores de Cinema (www.autoresdecinema.com.br), associação que reúne os principais roteiristas e, entre eles, consultores de roteiro para cinema e TV plenamente aptos a abastecer o mercado. Mas ainda são poucos.

O que trago aqui para vocês é a minha experiência para ser compartilhada com aspirantes a roteiristas ou cineastas que não possuem bagagem de roteiro e precisam de uma primeira orientação tanto para começar seu roteiro como para saber se está no trilho certo. Não se trata, portanto, de uma consultoria profunda, final.

Ofereço este serviço a partir do meu conhecimento de campo como crítico de cinema por dez anos, atuando no Jornal de Brasília e Band News FM, somando participação nos júris da crítica dos principais festivais de cinema do País e, recentemente, no júri do Prêmio Aquisição Canal Brasil.

Meu portifólio inclui realização de dois curtas-metragens de conclusão de curso, Única Certeza (1999), com Bernardo Bernardes, e Schadenfreude (2002); o longa-metragem Viva Igreja (2010), em fase de montagem; e consultoria de roteiro para  o longa-metragem polaco-brasileiro Finding Josef (2010), de Moises Menezes.