O cinema nasce no papel. É um lápis na mão e uma ideia na cabeça. Porque o autor de cinema (o roteirista, ou o diretor quando deseja aventurar-se nesta seara) não alguém que apenas cria, mas que consiga expressar na folha, em palavras, o que poderá ser visto na tela.
Escrever para o cinema (para a televisão também) é o tal "show, don't tell", que a escola norte-americana de roteiro usa quase como um mantra. Significa "mostre, não conte". A arte do screenwriting consiste em encontrar palavras que melhor exprimam ações.
Eis um exemplo do que não fazer:
EXT. DIA - Mata
Caçador caminha cautelosamente entre as árvores, pensando em não fazer barulho para não assustar sua presa, que está à beira do riacho.
Este é um problema básico, porém, muito recorrente. Quando você justifica uma ação na descrição da cena com pensamentos ou sentimentos do personagem, as chances são nulas de que você consiga imprimir esta sugestão na tela.
Se o diretor fosse filmar esta cena, o resultado seria apenas a imagem do caçador caminhando cautelosamente entre as árvores. Afinal, o que ele está pensando só se transformaria em uma ação física se o roteirista seguisse o exemplo do que fazer:
EXT. DIA - Mata
Caçador caminha cautelosamente entre as árvores. Avista a presa à beira do riacho. Pisa de leve em uma folha seca, que faz um barulho. Ele reclama consigo mesmo em voz baixa.