quarta-feira, 30 de março de 2011

VIPs, exemplar do bom roteiro brasileiro

É inevitável lembrar de Prenda-me se For Capaz (2002), de Steven Spielberg, diante da premissa de VIPs, filme de Toniko Melo vencedor do Festival do Rio no ano passado. O diretor não gosta da comparação. E digo que as semelhanças resumem-se meramente aos temas em comum: um falsário da vida real apaixonado por aviação.

São duas produções absolutamente distintas. A primeira tem o esmero grandiloquente da marca Spielberg, que conhecemos bem e tem lá suas qualidades e defeitos. A respeito da segunda, também destaco o zelo, mas neste caso no trato do roteiro, técnica e criativamente. E é de onde VIPs parte para tomar uma direção muito própria,   esvaziando o próprio argumento comparativo com o filme hollywoodiano sobre o picareta Frank Darabont Jr..

Até porque, Spielberg quer criar mais um herói americano, reconhecer o brilhantismo do personagem e ainda propor um grande thriller policial. Os roteiristas Bráulio Mantovani e Thiago Dottori dispunham de elementos muito semelhantes, mas preferiram transformam a pequena saga de um rapaz tímido, cujo sonho era tornar-se piloto como seu pai, em um drama humano.

VIPs tem seu próprio cara-de-pau: Marcelo Nascimento da Rocha, conhecido na vida real como o sujeito que se passou pelo filho de Nenê Constantino, dono da companhia aérea Gol. Wagner Moura, que não precisa mais apresentar qualquer atestado de competência, encarna muito bem esse papel de nuances profundas, que beiram o psicologismo (e dele escapam com sucesso).